CORONAVÍRUS
Por que a Covid-19 mata mais jovens em 2021 do que em 2020?
Cerca de 30% do total de mortes são de menores de 60 anos, em 2021
Em março de 2020 testavam positivo para coronavírus os primeiros brasileiros. Com essa notícia, espalhou-se o medo e o sentimento de incerteza. Não tardaram a aparecer os primeiros negacionistas da capacidade letal desse vírus, seguidos das primeiras curas milagrosas. Contudo, uma das linhas de raciocínio que parecia ter alguma lógica partia da notável maior letalidade desse vírus em idosos e recomendava isolar essas e demais pessoas vulneráveis à doença, enquanto se despreocupava com os outros.
Essa recomendação, que ficou conhecida como Isolamento Vertical, em detrimento do Isolamento Horizontal — que teria por estratégia isolar a maior quantidade possível de pessoas — , encontra falhas desde sua concepção; como, por exemplo, o fato de aumentar as chances de mutações do vírus. Contudo, mesmo que essa estratégia tenha se mostrado ineficiente, em nenhum momento refuta sua tese inicial de que o novo coronavírus é mais letal entre os idosos e pessoas com comorbidades. Então, surge a dúvida: a Covid-19 realmente faz mais vítimas jovens em 2021?
O que os dados apontam
Segundo os dados fornecidos pelo Portal da Transparência do Registro Civil, que recolhe os dados dos cartórios do Brasil, em 2021, cerca de 30% das vítimas da Covid-19 tinham menos de 60 anos; enquanto em 2020, esse número pouco passava de 20%. Mais especificamente, há uma variação de 8,13 pontos percentuais: de 21,44% em 2020, para 29,57% em 2021; do total de mortes por Coronavírus. Além disso, os dados também revelam o espantoso fato de que em cinco meses deste ano, o País teve mais mortes, em números totais, que nos oito meses de pandemia no ano anterior.
(Cartórios de Registro Civil do Brasil)
Como pode ser constatado com a ajuda do gráfico acima, em maio de 2021, a quantidade de mortos maiores de 60 anos (163.281), não só se igualou à do ano anterior (154.692), mas a superou. Além, claro, do já citado aumento de 8,13%, nesse mesmo período, no número de mortes de menores de 60 anos.
Ademais, também podem ser constatados outros saltos nos números de mortes entre jovens. Por exemplo, entre menores de 30 anos, o crescimento foi de, aproximadamente, 14%, aumentando de 2.757, em 2020, para 3.154 em 2021.
Já em menores de 40 anos, a tragédia é ainda maior, pois as mortes aumentaram mais de 50%; de 7.884, para 12.350.
Por que a Covid-19 vem matando mais jovens em 2021 que em 2020?
A primeira, e mais simples, explicação é que houve mais mortes em todos os grupos da população brasileira e, por isso, esses números também cresceram. Contudo, esse aumento se confirma também de forma estatística: enquanto o número geral de mortes cresceu 17,66%, o número de mortes de menores de 60 anos aumentou, exatamente, 62,3%. Vamos às hipóteses levantadas por especialistas.
Maior Exposição
Uma das hipóteses práticas apontadas por especialistas tem como ponto central a maior exposição desses grupos ao vírus; ou seja, o fato de os indivíduos que não fazem parte do chamado grupo de risco, se isolarem menos ou terem menos cuidado, em geral, com o vírus.
Nessa linha, pode ser que grande parte desses jovens estiveram em aglomerações durante esse período e, por isso, contraíram a doença; em seguida, por uma obviedade estatística, quanto mais pessoas infectadas circulam, maior é a chance de mortes em decorrência do vírus.
Contudo, não podemos nos esquecer que parte destes jovens constituem a População Economicamente Ativa e, no mais das vezes, não têm opção a não ser se expor ao vírus devido a seu trabalho. Essa realidade acomete, principalmente, jovens de baixa renda que desempenham funções de trabalho braçal e que, muito provavelmente, dependerão do já colapsado SUS para um futuro tratamento.
Esgotamento do grupo de risco
Outra hipótese levantada é que seja pela vacinação, por anticorpos já adquiridos, ou mesmo por morte, os constituintes do grupo de risco original já estariam imunes ao vírus. Cientistas já comprovaram a possibilidade de reinfecção por Covid-19, mas tende a haver uma longa lacuna entre as infecções, em que o paciente está, mais ou menos, imunizado.
Além disso, mesmo que até o momento pequena, há uma parcela de pessoas ativamente imunizadas por meio da aplicação de vacinas; cerca de 10% da população brasileira. Essa vacinação inicial se concentrou em pessoas desse grupo de risco.
Mudança de grupo de risco
Por fim, a possibilidade que vem sendo trabalhada há menos tempo — mas pode se mostrar a mais perigosa — é que as sucessivas variações do vírus tenham possibilitado a ele, literalmente, mudar o grupo de pessoas ao qual é mais letal. Variantes como a P1, descoberta no Amazonas, preocupam os cientistas devido a essa possibilidade de modificação de foco.
Mudanças desse tipo foram observadas em diversas pandemias anteriores da história, como, por exemplo, na Gripe Espanhola, que acometeu a população mundial depois da Primeira Guerra Mundial e, em sua primeira onda, atingia principalmente os idosos, por terem seu sistema imunológico menos capaz. Mas que em sua segunda onda, acometeu principalmente jovens, justamente, por terem seu sistema imunológico saudável e responderem muito fortemente contra a infecção.